PPP pode não ser a solução possível depois do novo coronavírus
Adotar PPPs como solução só faz sentido se houver conhecimento sobre como funcionam PPPs.
Muitas vezes ouve-se a afirmação de que determinada Companhia Estadual de Saneamento ou Prefeitura deseja fazer uma PPP – Parceria Público Privada em saneamento. Mas será que as PPPs são entendidas como um contrato de concessão limitado a condições pré-definidas entre um ente público e um privado? Ou será que há desconhecimentos que podem provocar situações como as exposta na figura a seguir?
As PPPs clássicas – conforme as leis nº 11.079/04 e nº 13.529/17 – em geral se caracterizam por contratos de longo prazo entre um parceiro privado e uma entidade pública, para prestar um serviço público e fornecer um ativo, no qual o parceiro privado assume um risco financeiro e operacional, e o parceiro público a responsabilidade da gestão compartilhada.
Algumas perguntas básicas precisam ser feitas aos interessados numa PPP, tais como:
- Quais as motivações para o projeto?
- Há entendimento quanto a necessidade de um estudo prévio para definir a viabilidade do projeto?
- O que se busca: uma PPP tradicional ou uma subconcessão ou contrato de performance ou assistência técnica?
- Há conhecimento técnico, econômico e jurídico sobre como modelar, implantar e gerenciar uma PPP?
Vencida esta etapa, convém pensar sobre o estabelecimento de uma linha de base que servirá para referenciar os primeiros passos de quem pretende adotar uma PPP como solução para seu problema, definindo-se um plano de ação para:
- Capacitar lideranças de visão inovadora e mente aberta à mudanças;
- Definir grupos gestores multidisciplinares para conduzir o processo até a licitação;
- Estabelecer premissas técnicas, econômicas, sociais, comerciais, operacionais, ambientais e gerenciais;
- Conhecer bem a realidade local, suas limitações e capacidades;
- Estabelecer critérios para contratação de apoio técnico externo;
- Organizar equipes que gerenciarão as fases do PMI-Procedimento de Manifestação de Interesse
Um projeto de PPP possui etapas muito claras que são desenvolvidas por quem autoriza os estudos e quem os executa, todas, sendo bem planejadas e gerenciadas, devem levar em conta ao final:
- Precisão do diagnóstico e viabilidade da solução concebida;
- CAPEX realista;
- OPEX baseado em indicadores de eficiência;
- Modelo de negócio e fluxo de caixa exequível;
- Capacidade de geração de receitas;
- Utilização de tecnologia, inovação e eficiência;
- Riscos envolvidos para as partes;
- Value for money para avaliar o impacto da solução;
- Contrato com critérios transparentes na definição de indicadores de desempenho, reajuste, revisão, forma de pagamento;
- Formas de garantia para cada uma das partes;
- Ambiente regulatório capacitado para analisar contratos de PPP;
- Ambiente político comprometido com o contrato de PPP.
As PPPs no modelo clássico, não vêm se firmando no mercado de saneamento como uma alternativa procurada. A figura adiante, indica onde há contratos deste tipo conforme o Panorama da ABCON 2019.
Entretanto, elas ainda podem ser uma boa alternativa desde que se compreenda o seu papel e das partes envolvidas. Além de modelar técnica, financeira e juridicamente a PPP, a gestão do contrato é um ponto fundamental para garantir que as premissas adotadas levem ao alcance dos resultados previstos, sempre lembrando quão longo os contratos são.
Os efeitos que a saúde pública sofre, mostram impactos imensuráveis na economia de mercado, das instituições públicas e das pessoas. Ter soluções exequíveis, definidas com um olhar competente sofre a realidade local, pode ser uma das formas de ativar o interesse por PPPs no modelo tradicional.
O que pode ser um fato a se trabalhar agora, é que o setor de saneamento tem em sua ineficiência crônica – agravada a depender da região do País – uma oportunidade para que sejam gerados estudos para PPP – Parcerias Público Privadas em seu sentido amplo, sem limitar a visões particulares.
É um bom momento para acelerar estudos que possam usar a experiência profissional, associada a integração de competências geradoras de soluções inovadoras nas áreas técnicas, operacionais e gerenciais para serviços de saneamento.
Cid Carlos
1 de maio de 2020 em 10:53Álvaro,
Para mim, foi um dos artigos mais bem explicativos que li sobre PPP`S! E com base no artigo, dentro desse momento vivido por essa pandemia, me a atenção o fato de se tentar promover leilão nesse mês de maio, por exemplo! Ninguém sabe até quando vai perdurar essa pandemia e até quando vai esse isolamento social que está afetando a rotina de trabalho das Empresas em geral (inclusive as de Saneamento), o Comércio em geral e as Indústrias em geral, etc.!E aí, como é que se vai ter uma boa gestão compartilhada, se as etapas necessárias e citadas no artigo estarão comprometidas durante um certo período (6 meses?, 1 ano?)?
Abraços,
Cid Carlos.
Álvaro Menezes
5 de maio de 2020 em 16:50Olá Cid.
Obrigado mais uma vez por ler e comentar os artigos. É muito bom ver amigos de longa data na CASAL pensando como você. Mente experiente, crítica e aberta.
Abraços.
Marlon do Nascimento Barbosa
1 de maio de 2020 em 11:06Amigo Álvaro! Quem dera se as PPPs brasileiras tivessem o nível de precisão técnica necessário e tão bem detalhados por você. A bem da verdade, quase sempre, o poder público não sabe o que quer, não conseguindo atrair parceiros privados sérios que esperam regras claras.
Álvaro Menezes
5 de maio de 2020 em 16:50Olá amigo Marlon.
Obrigado pelos seu abalizados comentários.
Abraços.