Universalizar o saneamento depois do coronavírus

Novos hábitos de uso e gerenciais devem marcar a nova era do saneamento pós-novo coronavírus

Publicado também em www.ambienteonline.pt

Em 1983, os compositores Lulu Santos e Nélson Motta lançaram a música “Como uma Onda”. Não se sabe o que pensavam ou se discutiam hipóteses filosóficas, porém marcaram no espaço atemporal da música frases como: “Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia, tudo passa, tudo sempre passará”.

Diante da gravidade da pandemia do novo coronavírus, mesmo que a discussão seja técnica, não se consegue deixar de pensar em outras coisas da vida, como a associação do dia a dia com versos como os da música mencionada.

Há muito que se busca a universalização dos serviços de saneamento – ênfase em abastecimento de água e esgotamento sanitário – e a atual pandemia mostra que nos países subdesenvolvidos, em desenvolvimento ou emergentes, a realidade aponta desafios a vencer. O Brasil é um bom exemplo. Áreas urbanas, em cidades grandes e ricas, não tem água regularmente e de forma confiável.

Entre os grandes números do saneamento, extraídos do SNIS 2018, havia 47,8 milhões de brasileiros sem água potável, sendo 11,5 milhões nas áreas urbanas. São números que neste texto não serão analisados, pois de números, estatísticas e previsões sobre saneamento e muitas outras coisas estamos bem servidos.

O que se pode perguntar é: depois que tudo passar, como será que se encarará o desafio da universalização? Mais dinheiro ou melhor gestão? Serão seguidos os mesmo padrões de gestão e técnicos para mitigar os efeitos do novo coronavírus sobre as receitas, inadimplência, despesas, investimentos, projetos, obras, operação, administração e regulação dos serviços?

Novamente recorrendo a música “Como uma onda”, seria possível refletir também sobre a frase “Tudo que se vê não é igual ao que a gente viu há um segundo, tudo muda o tempo todo no mundo”. Bem apropriado também para o contexto atual de globalização, governança 4.0, inovação tecnológica e comportamental que alteraram e vem moldando um presente que obriga a trabalhar em futuros de curto prazo.

O essencial saneamento, ainda deixado de lado quando comparado com outros serviços públicos, não enfrentará mais ou menos dificuldades que todas as empresas públicas e privadas do Brasil, mas com certeza precisará com rapidez e eficiência superar o complexo de inferioridade e a síndrome “dos outros são os culpados”, que marcam o desempenho principalmente dos operadores públicos.

Como nos seres humanos, tanto o complexo como a síndrome decorrem de sua criação e “educação” ao longo do tempo. Entretanto, a idade de maturidade dos políticos e dos prestadores de serviço público já deveria ter sido alcançada. Bons e maus resultados, além dos exemplos nacionais de que é possível mudar e melhorar, existem.

Pensando que o futuro chega com a velocidade de downloads e uploads, seria recomendável que a era pós-novo coronavírus no saneamento viesse acompanhada de palavras como: decisão, responsabilidade, compromisso, integração, eficiência e sustentabilidade. Não é preciso mais discutir forças x fraquezas para aplicar novos métodos de gestão para os serviços de saneamento. A realidade mostra que o problema não se resolverá simplesmente mudando de operador público para privado ou injetando bilhões em novas obras. Atitudes novas de Governos Federal, Estadual e Municipal, políticos, gestores e técnicos precisam ser tomadas para que haja resultados diferentes a partir dos cenários conhecidos de ineficiência crônica, ignorância institucional e interesse em manter modelos que não atendem as necessidades da sociedade.

8 Comentários em “Universalizar o saneamento depois do coronavírus

Nelia Henriques Callado
24 de abril de 2020 em 08:49

Muito bom para refletirmos e planejarmos o futuro. É isso mesmo!

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Álvaro Menezes
27 de abril de 2020 em 14:36

Obrigado Nélia. Abraços.

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Alexandre Portela de Holanda Cavalcanti
26 de abril de 2020 em 08:55

Excelente artigo ,amigo Álvaro, parabéns!!!

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Álvaro Menezes
27 de abril de 2020 em 14:36

Obrigado amigo. Abraços.

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Bárbara Cavalcanti
26 de abril de 2020 em 12:09

Parabéns e obrigada Álvaro, pelo texto acima.
Recorrendo a música , tão bem colocada, “…Não adianta fugir,Nem mentir, Pra si mesmo…”, É pouco provável que um dia a idade da maturidade de muitos políticos,gestores, tecnicos e prestadores de serviços de saneamento seja atingida! Pois, o compromisso com educação e saúde pública, base para qualidade de vida parece que não faz parte de suas agendas de compromisso e responsabilidade. Fazem de conta que fazem!Pelo menos é o que a história ao longo do tempo tem mostrado.
Neste quesito, tudo não MUDAR! Vamos continuar vendo tudo como vimos🧐 a um segundo 😭😟😔
Mas, não vamos desistir! O jogo só acaba, quando termina. Creio, que os novos gestores e técnicos podem mudar o cenário, com muitoooo esforços. Alcançando o tão almejado e merecido compromisso com as questões da educação e saneamento, que tanto a sociedade tem direito.

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Álvaro Menezes
27 de abril de 2020 em 14:35

Obrigado amiga Bárbara. Abraços.

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Reinaldo Falcão
4 de maio de 2020 em 11:51

Boa reflexão.
Precisamos mudar para melhor.

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Álvaro Menezes
5 de maio de 2020 em 16:51

Valeu amigo.
Obrigado.

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