Perdas! Sempre elas como foco das discussões.
Combater as perdas de água em serviços de saneamento deve ser uma ação permanente de gestão.
Há alguns anos que o Instituto Trata Brasil presta um relevante serviço de divulgação dos índices de perdas no Brasil, porém, infelizmente, apesar do tempo decorrido, tem sido difícil reduzir as perdas e mantê-las em níveis economicamente sustentáveis. Entre a década de 90 e seus PECOPs-Programas Estaduais de Controle de Perdas, e o primeiro quinto do século XXI, houve avanços tecnológicos, mas a adoção de uma ação gerencial permanente e contínua voltada para eficiência plena na gestão dos serviços de abastecimento de água, não é a realidade ainda.
A meta de 25% de perdas até 2033 como referência mais econômica que técnica, é válida como incentivo à busca de modelos gerenciais que trabalhem com indicadores, que de fato meçam o nível de perdas reais e aparentes a partir da redução de volumes perdidos e do equilíbrio operacional do volume disponibilizado.
Ou seja, trabalhar com os volumes para chegar ao percentual mais compreensível para a sociedade, é um processo que ainda não se consolidou no Brasil pelo resultados que pouco se alteram ano a ano, segundo o Trata Brasil e o SNIS.
Segundo relatórios do Banco Mundial, as causas dos fracassos em programas de redução de perdas são:
- Pouco conhecimento da natureza das perdas (Reais? Aparentes? Quanto? Onde? Como?);
- Dificuldade em dar valor ao impacto das perdas no prestador de serviços e para a sociedade;
- Elaboração de projetos deficientes;
- Custos extremamente subestimados;
- Projetos inconsistentes, só para conseguir fundos;
- Fracasso em perceber que a redução de perdas é:
- Não só um problema técnico isolado;
- Inerente ao gerenciamento e operação dos sistemas, como um todo;
- Não apenas uma atividade eventual, mas que requer comprometimento contínuo e a longo prazo;
Caso fosse possível resumir as causas relacionadas anteriormente numa frase, poderia se voltar ao início do texto e dizer: os programas de redução de perdas fracassam por falta de gestão. Não há novidade nisto. Desde os PECOPs que se fala na importância da redução de perdas ser um compromisso empresarial e política estratégica de sustentabilidade.
Quando se tratar de prevenção, redução e controle de perdas, é imperioso estabelecer um modelo de gestão operacional que rompa paradigmas e mude a cultura gerencial, de modo a se ter como política empresarial a identificação rápida e o mais precisa possível, de quanto se perde de água; onde estas perdas acontecem e por que acontecem. Este conhecimento pode então servir de base para o estabelecimento de planos de ação baseados em estratégias sustentáveis , que garantam a perenidade dos resultados que venham a ser alcançados. O roteiro proposto por pesquisadores da IWA é sumarizado no esquema seguinte:
Fonte: Malcolm Farley, traduzido e adaptado por Airton Gomes
O roteiro apresentado na figura anterior retrata uma sequência de atividades com atividades e reflexos em toda estrutura da empresa prestadora de serviço. Não é encargo apenas de uma unidade reduzir, controlar e manter as perdas nos limites economicamente compatíveis com a realidade local.
Considerando que exista um programa e a devida gestão do mesmo para reduzir as perdas, os resultados que podem ser alcançados são:
- Universalização do atendimento com água das populações urbanas, com a expansão de redes e ligações, fim de intermitências e regularidade na pressão e vazão necessárias;
- Postergação ou eliminação de investimentos na ampliação de produção e reservação;
- Realização de melhorias e reabilitações operacionais necessárias nas unidades de produção, adução, bombeamento e reservação;
- Manutenção das medidas de controle de perdas ao longo do tempo, sem onerar a tarifa de água;
- Subsidiar em parte o alcance das metas de esgotamento sanitário.
O momento atual ainda está muito dominado pela ideia de CAPEX como solução. O que se almeja é mais investimentos sem muita relevância para a melhoria obrigatória da gestão – dever da concessionária – e efetiva regulação para garantir a qualidade dos serviços – dever do poder público – quando o mais importante é ter um operador capaz de manter a boa gestão no longo prazo.
A conexão entre o novo marco regulatório e a redução de perdas não está associada ao CAPEX gerado pelos concessionários privados, pois ele abriu a oportunidade de operadores públicos e privados acelerarem as suas estratégias por eficiência empresarial visando alcançar as metas de universalização. Para tanto, reduzir, controlar e manter as perdas de água reais e aparentes nos seus limites de eficiência econômica, é o melhor caminho.
Alexandre Portela de Holanda Cavalcanti
27 de junho de 2023 em 15:27Excelente artigo ,sábias e competentes palavras ,como sempre , Parabéns Dr Álvaro 👏🙏
Álvaro Menezes
29 de junho de 2023 em 17:54Obrigado amigo.
GEOBERTO ESPÍRITO SANTO
28 de junho de 2023 em 14:09Álvaro, boa tarde
Certamente que isso é um problema, principalmente onde o Estado dá uma concessão e não dá condições para as concessionárias trabalharem. Tenho algumas dúvidas no setor de água e saneamento.
a) Como são tratadas as perdas de água na regulação do setor no Brasil?
b) Aqui em Alagoas existe regulação para tal? Qual o tipo de documento regulatório? Lei, contrato de concessão, resolução, portaria, …..
c) Existe uma trajetória regulatória a ser cumprida pelas concessionárias? Por exemplo: esse ano as perdas são de 30%; em 2024 seriam 28%; em 2025 de 25% e assim por diante?
d) Se essas metas não forem cumpridas, existe um custo econômico do não cumprimento da meta. Esse custo vai para a tarifa do consumidor no próximo ano ou o custo são perdas do acionista, quer estatal, quer privado? Se for conseguido um valor abaixo da meta fixada, a economia vai para os acionistas totalmente ou é revertida também para a modicidade tarifária?
ABR. Geoberto Espírito Santo
Álvaro
29 de junho de 2023 em 17:59Amigo Geoberto.
Obrigado por continuar sendo leitor de meus texto e me honrar com seus comentários.
Vou enviar as respostas em seu e-mail pessoal.
Abraços.
Julio Issao Kuwajima
31 de julho de 2023 em 11:53Excelente artigo, Álvaro…
Algo que todos dizem e repetam, mas poucos conseguem realmente colocar em prática.
OBS: Diagrama traduzido pelo saudoso Aírton Gomes.
Álvaro Menezes
31 de julho de 2023 em 16:03Boa tarde.
Obrigado. Nosso saudoso amigo deixou um grande legado como estudioso e projetista na área de redução e controle de perdas.
Abraço
Álvaro Menezes
1 de agosto de 2023 em 08:06Obrigado.
Realmente nosso amigo Airton deixou grandes contribuições.
Abraços.
Julio Issao Kuwajima
31 de julho de 2023 em 16:05Muito bom a reflexão Álvaro.
Todos colocam estes pontos na hora de elaborar os planos, mas na hora de executar, acaba virando uma ação com escopo bastante rígidoe limitado.
Gostei de ver o diagrama traduzido pelo saudoso Aírton Gomes.