O que as outorgas onerosas precificam?

Outorgas pagas chamam atenção, porém não se tem certeza ainda se elas beneficiaram as operações ou não.

Desde 2020, as outorgas pagas em Alagoas para os blocos A e B, bem como as do Rio de Janeiro e mais recentemente a de Sergipe, por exemplo, chamam atenção para o que o mercado precifica quando apresenta relevantes ágios. Por esses exemplos, notadamente para os que acham que algumas companhias estaduais poderiam ter recuperação, pode-se pensar que se elas valiam tanto, por que conceder os serviços para empresas privadas e não investir em suas recuperações?

Por outro lado, pode até ser compreensível aceitar ágios elevados, quando se entende que o que está sendo objeto da outorga com direito de acesso a 30 ou 35 anos de contrato de concessão, é na verdade o que os mercados locais oferecem como oportunidades de lucros – sim lucros, que as companhias estaduais não conseguiam dar – como resultado pela melhoria da qualidade dos serviços de água e esgotos. Em resumo, as outorgas pagas não significam comprar as companhias estaduais, mas a compra do direito pela prestação de um serviço com grande potencial de ser lucrativo. O atrativo aumenta se tarifa já for boa, como foi o caso da CASAL/AL, onde um dos maiores ativos era a excelente tarifa média da companhia estadual.

Quanto mais déficits houver nos serviços de água e esgotos, representados por baixos níveis de cobertura e atendimento, elevadas perdas e ineficiência operacional com descontrole financeiro decorrente de cadastros desatualizados, cobranças ineficientes e inadimplência, maior pode ser a outorga. Um problema é que onde as tarifas forem baixas, outorgas elevadas x CAPEX elevados, podem colocar em risco a capacidade de pagamento dos que devem ser beneficiados com melhores serviços, além de poderem colocar sob risco os fluxos de caixas das operadoras e os futuros investimentos.

Além disso, batendo-se na velha tecla, os operadores privados sozinhos, não poderão responder pelos 5.570 municípios e outros milhares de povoados/localidades/distritos. As soluções precisam fugir do risco de repetição do monopólio tentado pelo PLANASA, porém, elas precisam ser viáveis sob todos os critérios, sendo importante incentivar a utilização de modelos diferenciados de parcerias desde as PPPs tradicionais até as concessões plenas, além de modelos como SABESP/SP e CORSAN/RS.

Parece um mantra, porém não é, reafirmar que o o avanço das operadoras privadas no mercado aumenta a responsabilidade dos governos estaduais já que com a regionalização estes assumiram o papel de contratante, necessitando serem reguladores ativos e ainda os gestores do que restou das companhias estaduais como em Alagoas, Sergipe, Rio de Janeiro. Fiscalizar, regular e operar sistemas produtores, segue nas mãos de quem era responsável pelas companhias estaduais. Assim, é muito importante os estados entenderem a dimensão do seu papel atual.

Como parece ser uma marca registrada brasileiras, os modelos vão se adequando indicando uma tendência com o novo marco legal, de se compreender que do jeito que estava – ainda está em alguns lugares – não dá mais para ficar. Os modelos em andamento podem trazer soluções imprevistas como no caso do Amapá, que agora, de repente, poderá ser administrado com a valiosa utilização da expertise dos técnicos da SABESP, posto que a EQUATORIAL, gestora dos serviços de água, esgoto e distribuição de energia elétrica naquele Estado, é também a gestora da SABESP. Isto significa que as metas no Amapá poderão ser atingidas com uso do apoio técnico, operacional e gerencial da SABESP. O modelo SABESP ajudará o Amapá?

O cenário recente mostra quem são os operadores que atuam nas capitais brasileiras e as perspectivas de próximas mudança. As eleições municipais de outubro, deverão trazer mudanças também para cidades que não são capitais, visto que algumas Prefeituras seguem buscando suas soluções com operadores privados, inclusive aqueles que não estão entre os maiores do mercado. A pergunta que fica, é se as outorgas seguirão sendo motivações monetárias para novas licitações ou serão um instrumento de valorização do serviço?

A tabela a seguir mostra este cenário. Da população das capitais, as operadoras privadas atendem a 52,6% da população deste universo.

POSIÇÃO CAPITAL UNID. FED. POPULAÇÃO OPERADOR TIPO OBSERVAÇÃO
São Paulo SP 11.451.999 SABESP PRIVADO EQUATORIAL COMO SÓCIA
Rio de Janeiro RJ 6.211.223 AEGEA, IGUÁ e ÁGUAS do BRASIL PRIVADO
Brasília DF 2.817.381 CAESB PÚBLICO ESTADUAL
Fortaleza CE 2.428.708 CAGECE PÚBLICO ESTADUAL PPP COMO ESTRATÉGIA
Salvador BA 2.417.678 EMBASA PÚBLICO ESTADUAL PPP COMO ESTRATÉGIA
Belo Horizonte MG 2.315.560 COPASA PÚBLICO ESTADUAL
Manaus AM 2.063.689 AEGEA PRIVADO
Curitiba PR 1.773.718 SANEPAR PÚBLICO ESTADUAL PPP COMO ESTRATÉGIA
Recife PE 1.488.920 COMPESA PÚBLICO ESTADUAL ESTUDO BNDES EM ANDAMENTO
10º Goiânia GO 1.437.366 SANEAGO PÚBLICO ESTADUAL
11º Porto Alegre RS 1.332.845 DMAE MUNICIPAL
12º Belém PA 1.303.403 COSANPA PÚBLICO ESTADUAL ESTUDO BNDES EM ANDAMENTO
13º São Luís MA 1.037.775 CAEMA PÚBLICO ESTADUAL ESTUDO BNDES EM ANDAMENTO
14º Maceió AL 957.916 BRK PRIVADO
15º Campo Grande MS 898.100 AEGEA PRIVADO
16º Teresina PI 866.300 AEGEA PRIVADO
17º João Pessoa PB 833.932 CAGEPA PÚBLICO ESTADUAL PPP COMO ESTRATÉGIA
18º Natal RN 751.300 CAERN PÚBLICO ESTADUAL ESTUDO BNDES EM ANDAMENTO
19º Cuiabá MT 650.877 IGUÁ PRIVADO
20º Aracaju SE 602.757 IGUÁ PRIVADO
21º Florianópolis SC 537.211 CASAN PÚBLICO ESTADUAL
22º Porto Velho RD 460.434 CAERD PÚBLICO ESTADUAL
23º Macapá AP 442.933 EQUATORIAL PRIVADO
24º Boa Vista RR 413.486 CAER PÚBLICO ESTADUAL
25º Rio Branco AC 364.756 SAERB PÚBLICO MUNICIPAL
26º Vitória ES 322.869 CESAN PÚBLICO ESTADUAL PPP COMO ESTRATÉGIA
27º Palmas TO 302.692 BRK PRIVADO
TOTAL 46.485.828 22,89 % DA POP. TOTAL
BRASIL 203.080.756

Publicado também em:

Saneamento, de bem com a vida #18: O que as outorgas onerosas precificam?

 

 

 

 

2 Comentários em “O que as outorgas onerosas precificam?

guy Bruère
13 de setembro de 2024 em 13:22

Álvaro, os seus textos sempre trazem análises super sensatas do momento que a nossa indústria está vivenciando.
Que tal voce propor uma modelagem que seria ajustada mediante alguns parâmetros, como: valor da tarifa média, cobertura dos serviços, numero de habitantes, renda média, outras fontes de receitas não operacionais, etc. ?
Um abraço,
Guy Bruère.

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Álvaro Menezes
13 de setembro de 2024 em 19:43

Muito obrigado por ler e comentar os textos, acrescentando sugestões. É um grande incentivo. Abraços.

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